quinta-feira, 12 de abril de 2012

Criança e Infância


 Disciplina: EIC 4 - Educação Infantil e a Criança com Necessidades Especiais.

A partir das leituras e estudos realizados, faça uma análise e elabore um texto, usando as suas próprias palavras, sobre a história social da infância (ou a história social da criança e da família) abordando o porquê de se dizer que tanto o conceito de infância quanto o de criança são socialmente construídos. 


As concepções de criança e de infância como as conhecemos hoje, nos parecem naturais, ou seja, parecem ter sempre existido em nossas mentes e sociedade, no entanto tais concepções tem se modificado ao longo da história, oscilando, segundo Ariés (1981) “entre os pólos em que as crianças eram consideradas ora um bibelô, ora um “ser incompleto”.
Assim tais concepções foram historicamente construídas, e por isso é que se pode perceber os grandes contrastes em relação ao sentimento de infância no decorrer dos tempos. Na Idade Média a criança era vista como um adulto em miniatura, e rapidamente era inserida no mundo adulto, sem nenhuma preocupação em relação à sua formação enquanto um ser específico, sendo exposta a todo tipo de experiência. Nos séculos XVI e XVII, segundo Ariés, surgem as primeiras demonstrações de “sentimento de infância”, tal sentimento teve origem na família, que passou a ver as crianças com ingenuidade, gentileza e graça durante o período da primeira infância,
Segundo Áries, até o século XVII, a socialização da criança e a transmissão de valores e de conhecimentos não eram assegurados pelas famílias, mas ao final do século XVII outro sentimento de infância, impulsionado por críticas de “homens da lei” e religiosos, em relação a “paparicação” dos adultos para com as crianças, esse outro sentimento estava relacionado a disciplinar as crianças para que se tornassem homens racionais, morais e cristãos. As grandes transformações sociais ocorridas no século XVII contribuíram decisivamente para a construção de um sentimento de infância. As mais importantes foram as reformas religiosas católicas e protestantes, que trouxeram um novo olhar sobre a criança e sua aprendizagem. A escola passa a ser responsável pelo processo de formação da criança até que ela estivesse “pronta” para a vida na sociedade, a aprendizagem, além da questão religiosa, passa a ser um dos pilares no atendimento à criança.
Este breve histórico demonstra que as concepções de criança e infância passaram por um processo secular de transformação, no qual criança ganhou status de “adulto em formação”, a infância se tornou uma etapa imprescindível à vida humana e a educação desta infância passa a ser responsabilidade uma instituição organizada para atender as expectativas da sociedade em relação ao que as crianças virão a se, à escola. Desta forma os conceitos de criança e de infância se tornam universais, e tendem a ser adequados à cultura, ao cenário econômico, religioso e intelectual de cada sociedade. Na modernidade, de forma generalizada, a criança é vista como um sujeito de direitos, situado historicamente e que precisa ter as suas necessidades físicas, cognitivas, psicológicas, emocionais e sociais, supridas através de um atendimento integral e integrado, entre família, escola, e sociedade. Já de forma específica a criança pode ser concebida como um “vir a ser”, uma matéria-prima para a construção do adulto, como um ser inocente que precisa ser protegido, como natureza que se desenvolve de forma inata em estágios biológicos ou ainda como suprimento para o mercado de trabalho.
Desta forma os conceitos de criança e infância construídos durante séculos são um legado as sociedades contemporâneas, e prosseguem sendo objeto de estudo em inúmeras áreas do conhecimento humano, no entanto temos que nos atentar ao fato de que estes conceitos geram uma massificação e homogeneização das concepções de criança e infância, nos dando a falsa impressão de que todas as crianças são iguais, de que todas as infâncias são iguais, as deixando sem contexto, sem singularidade. Outro ponto que merece atenção é que tais conceitos estão em dissonância com o atual contexto social, no qual buscamos construir uma sociedade para todos, inclusiva, uma sociedade que se adéqüe as diferenças ao invés de fingir que elas não existem, buscamos também uma escola para todos, ainda que eles sejam diferentes, não temos, neste contexto, a necessidade de uma única concepção de criança, ou de infância, atualmente buscamos ser capazes de aceitar que dependendo da cultura, da sociedade ou até da família, uma criança viva a infância de forma diferente de outra, que as questões econômicas fazem as infâncias serem diferentes umas das outras, e que estes fatores sociais influenciam padrões biológicos descritos como característicos da infância, podendo sufocá-los, potencializá-los ou anulá-los, ou seja, estamos experiênciando conceber a criança e a infância como únicas em cada indivíduo, abrindo espaço para que esta criança nos apresente a si própria e a sua infância.

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